13 fevereiro, 2009

Uma taça quebrada em mil pedaços

A vida inteira eu procurei por uma única aprovação. Por um único tapinha nas costas seguido de um: parabéns! Apenas um. Aprendi nova que eu não deveria me importar com o que os outros pensam ou falam de mim. Por um tempo isso claramente me machucou. Depois, aprendi que eu devo me importar com o que eu penso de mim mesma e não com os outros. Mas existe uma única pessoa que eu não consegui deixar de me importar.

Lembro de uma vez em que essa pessoa precisou se ausentar durante uns dias. Eu devia ter uns 10 anos na época. E lembro de chorar para meu pai, dizendo que toda vez que essa pessoa se ausentava, era como se meu coração partisse em mil pedaços, como uma taça de vinho. E que era difícil colar tudo de novo. E por muito tempo foi assim. Até que virei aborrecente. Então, quis colocar um piercing, quis começar a sair, quis aprender a fumar. E lá fui eu. Coloquei meu piercing, saía, fingia que fumava. Mas existia sempre alguma coisa que me deixava pra trás. Amuada, aturdida, quieta. Eu não conseguia ser diferente. Quando se mora com sua família é absolutamente impossível ter um momento de privacidade e curtir sua dor. Por isso, eu só empurrava mais pra dentro. Tive brigas. Muitas delas. Arrumei um namorado, quase entrei em coma alcoólico, fiquei de castigo. Passei no vestibular, me mudei para São Paulo.

Então, a convivência passou a ser melhor. Mas eu ainda não tinha feito o certo. Não havia passado numa faculdade federal. Foi então que no primeiro ano da minha primeira faculdade eu arrumei um emprego. Assim, ninguém teria que se sacrificar pra me sustentar. Logo depois veio o segundo emprego. Pagava mais. Já dava pra fazer muita coisa sozinha. Mas ainda não era o suficiente. E então minha irmã do meio resolveu largar a faculdade de fisioterapia no ultimo ano e fazer direito. Pois bem. E eu me descobri cansada de R.I.. Que não era aquilo que eu queria pra minha vida...apesar de já estar afogada no mundo do comex.

Não tive coragem de contar que queria mudar de curso. Como é que eu poderia fazer isso? Lutando internamente, o vitiligo voltou. E minha irmã mais velha contou a verdade. Então, depois de ouvir que não acreditavam que eu pudesse fazer isso Tb, fiquei um ano sem estudar. Arrumei um terceiro emprego, ainda melhor. Quando decidi voltar para a faculdade, assumi a responsabilidade de pagar a faculdade sozinha. Mais o condomínio, condição mínima para que minha irmã e eu nos mudássemos para o apartamento.

Hoje eu dia eu assumi todas as minhas contas. Assumi tomar conta da minha vida. Mas eu sou infeliz, frustrada. Eu detesto meu trabalho. Tenho horror a acordar todos os dias e saber o que me espera. Uma coisa que não tenho tesão nenhum em fazer. Sou infeliz pelo fato de que estou presa dentro da minha própria cabeça e não consigo mais escrever. Mas eu preciso agüentar meu trabalho para terminar a faculdade, pois essa é a condição mínima. Queria conhecer o mundo, mas tenho medo de pedir dinheiro emprestado. Queria largar tudo e me dedicar a algo que realmente goste.

Mas eu não posso fazer isso agora. Eu não posso deixar minha mãe decepcionada. Eu preciso terminar a faculdade. Eu preciso ser capaz de comprar minha própria casa, meu carro e não deixar ela preocupada. Eu preciso estar aqui, caso ela precise. Eu preciso trabalhar e conseguir ajudar minha irmã, para que ela não tenha que pedir mais pra minha mãe e ter que ouvir o que ela não gostaria.
Eu ainda procuro a aprovação da minha mãe. Eu só não sei mais qual. Nem por que.

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