23 abril, 2011

Porque é no silêncio da alma que descansa o conforto

Ele sumiu durante tempos, resolveu fingir que ali nunca houve nada. Caiu em profundo silêncio, como se palavras nunca houvessem sido trocadas. Simplesmente saiu de cena, da mesma maneira que entrou. Não pediu licença, não pediu por favor. Foi entrando e depois saiu.

A alma se sentiu traída. O coração não sabia o que dizer, já que ele nunca soube o que sentia. Mas a alma ressentiu. A alma sabia que tudo o que ele falava era mentira. Sabia que devia acreditar em si mesma, mas cedeu. Pensou que pudesse estar errada. Talvez essa coisa de sempre dar ouvidos a si mesma possa ter prejudicado tantas outras coisas na vida.

O coração palpitava sem entender. Talvez fosse por toda ausência de carinho que ele tenha se deixado seduzir. Talvez pela vontade de se apaixonar de novo, por se sentir trêmulo e rápido novamente. Talvez porque quisesse, muito, ver o corpo ofegante, o peito arfando, a voz gaguejante, os olhos embaçados. Mas ele não queria se entregar, não assim, tão fácil. Porque sempre existe a chance de não dar certo.

E então, alma e coração chegaram a um acordo. Se acalmaram e descansaram. Descobriram que ali não havia nada, apenas uma confusão de sentimentos, tantas vezes ocorrida. Ambos sorriram e se deixaram ficar leves. Aquilo tudo se esvaiu. Eles respiravam sossegados novamente.

A normalidade dos dias foi abatida por um aceno dele. Uma bobagem, que na hora gerou um ataque de riso. Mas o outro dia chegou. E o seguinte. Coração e alma pensaram em entrar em conflito. Ficaram quietos. Mas voltam a pensar. Porque ele percebeu o silêncio em que coração e alma entraram. Percebeu que dali não sairia mais nada. Foi só para cutucar o coração que estava tranqüilo. Só por não ter nada melhor pra fazer. Sabia ser mesquinho, mas o fez mesmo assim. Sabia querer outra pessoa, mas queria garantir que existia ali outro alguém, caso não desse certo.

Já é tarde agora. Coração e alma decidiram lutar juntos contra a confusão de sentimentos. Devagar, voltam a sentir a calmaria voltando. É melhor deixar ir, do que se encarcerar numa prisão sem grades, mas que pune e machuca. Deixaram ir. Voltaram a sentir conforto no silêncio. No vazio.