26 fevereiro, 2009

O vazio do meu vazio

Essa noite foi uma das piores noites da minha vida. Simplesmente não consegui dormir. Bem que tentei, mas nada adiantou. E não é que fiquei acordada pq estava pensando, elétrica e acesa demais para dormir. Muito pelo contrário. Era apenas um vazio dentro da minha cabeça. Um vazio que não me deixava dormir.

Eu já pensei tanto, tantas vezes, sobre todas as coisas que simplesmente não há mais nada para pensar. Não há mais nada para discutir, tentar achar o ponto crucial ou simplesmente tentar entender o ponto de vista dos outros. Já fiz isso. Inúmeras vezes. E agora só me sobrou o vazio. As respostas que já consegui e que não saem disso. Um círculo vicioso em meus pensamentos. Nada mais eu consigo encontrar.

Não consigo nem mais conversar. Esgotei meus argumentos. Esgotei minha vontade. Não tenho mais nada em mim que me faça querer levantar e lutar.

Só quero que todos me deixem em paz. Por um dia que seja. Vão dar o cu pra quem tem tempo. Só me deixem aqui. Pra que eu possa tentar encontrar a vontade de novo.

20 fevereiro, 2009

O maldito comercial de margarina

Se um livro eu fosse, duas páginas eu teria. Não gastaria tempo explicando, contando, esmiuçando. Diria apenas o que eu sou de verdade: estranha, complexa, travesti, mal humorada e irritadiça. Acho até que duas páginas são mais que o necessário.

Sem maiores explicações, sem discursos prolongados e monótonos. Sem perda de tempo nem de saliva. Sem tem que dar voltas e voltas e ninguém conseguir acompanhar meu raciocínio, achando que eu não chego a lugar algum, sendo que faz todo o sentindo do mundo. Sem conversas intermináveis sobre o mesmo assunto ou falta de. Sem ter que dar murro em ponta de faca até não ter mais mão.

Não ter mais que suplicar que me deixem viver do jeito que sei. Não ter mais que colocar uma máscara pq as pessoas acham que quem não sorri o tempo inteiro não é normal, não é feliz. Que vc deve sim ter nascido em comercial de margarina. Estar cansado, triste, puto, desapontado, frustrado, deprimido é para quem é clinicamente doente. Todos os outros devem sorrir todos os dias, o dia todo.

Finalmente poder parar de explicar que viver em sociedade não significa ter 300 amigos íntimos e estar sempre acompanhada de alguém. Quem foi que disse que passar algum tempo sozinho é errado, sinal de falta de habilidade, de sociabilidade, de amizades verdadeiras, de mau humor, raiva ou depressão? Pq esse alguém é quem tem problemas. Ninguém consegue ser feliz se não tiver um momento pra si. De introspecção. De pensar, debater, chorar, rir, comer, assistir TV de péssima qualidade, dar uma volta do bairro, sentar num café com um jornal.

Eu quero dizer pros super otimistas daí de fora que na verdade eu acho que vcs tem um problema. Vcs não conhecem a dor. E, portanto, quando ela vier, vai ser um golpe que talvez seja impossível de agüentar. Que reprimir problemas ou sentimentos ruins ou até mesmo aqueles momentos em que você anseia por um tempo sozinho só vai fazer mal pra você. E que aqueles que gostam de ficar sozinhos e tem poucos amigos são aqueles que são mais satisfeitos e felizes. Pq vcs até podem dizer que tenho poucos amigos, que pareço amargurada ou o diabo. Mas eu tenho amigos, apoio. Amigos de décadas. Amigos que vejo toda semana para um merecido chope. E vc?

13 fevereiro, 2009

Uma taça quebrada em mil pedaços

A vida inteira eu procurei por uma única aprovação. Por um único tapinha nas costas seguido de um: parabéns! Apenas um. Aprendi nova que eu não deveria me importar com o que os outros pensam ou falam de mim. Por um tempo isso claramente me machucou. Depois, aprendi que eu devo me importar com o que eu penso de mim mesma e não com os outros. Mas existe uma única pessoa que eu não consegui deixar de me importar.

Lembro de uma vez em que essa pessoa precisou se ausentar durante uns dias. Eu devia ter uns 10 anos na época. E lembro de chorar para meu pai, dizendo que toda vez que essa pessoa se ausentava, era como se meu coração partisse em mil pedaços, como uma taça de vinho. E que era difícil colar tudo de novo. E por muito tempo foi assim. Até que virei aborrecente. Então, quis colocar um piercing, quis começar a sair, quis aprender a fumar. E lá fui eu. Coloquei meu piercing, saía, fingia que fumava. Mas existia sempre alguma coisa que me deixava pra trás. Amuada, aturdida, quieta. Eu não conseguia ser diferente. Quando se mora com sua família é absolutamente impossível ter um momento de privacidade e curtir sua dor. Por isso, eu só empurrava mais pra dentro. Tive brigas. Muitas delas. Arrumei um namorado, quase entrei em coma alcoólico, fiquei de castigo. Passei no vestibular, me mudei para São Paulo.

Então, a convivência passou a ser melhor. Mas eu ainda não tinha feito o certo. Não havia passado numa faculdade federal. Foi então que no primeiro ano da minha primeira faculdade eu arrumei um emprego. Assim, ninguém teria que se sacrificar pra me sustentar. Logo depois veio o segundo emprego. Pagava mais. Já dava pra fazer muita coisa sozinha. Mas ainda não era o suficiente. E então minha irmã do meio resolveu largar a faculdade de fisioterapia no ultimo ano e fazer direito. Pois bem. E eu me descobri cansada de R.I.. Que não era aquilo que eu queria pra minha vida...apesar de já estar afogada no mundo do comex.

Não tive coragem de contar que queria mudar de curso. Como é que eu poderia fazer isso? Lutando internamente, o vitiligo voltou. E minha irmã mais velha contou a verdade. Então, depois de ouvir que não acreditavam que eu pudesse fazer isso Tb, fiquei um ano sem estudar. Arrumei um terceiro emprego, ainda melhor. Quando decidi voltar para a faculdade, assumi a responsabilidade de pagar a faculdade sozinha. Mais o condomínio, condição mínima para que minha irmã e eu nos mudássemos para o apartamento.

Hoje eu dia eu assumi todas as minhas contas. Assumi tomar conta da minha vida. Mas eu sou infeliz, frustrada. Eu detesto meu trabalho. Tenho horror a acordar todos os dias e saber o que me espera. Uma coisa que não tenho tesão nenhum em fazer. Sou infeliz pelo fato de que estou presa dentro da minha própria cabeça e não consigo mais escrever. Mas eu preciso agüentar meu trabalho para terminar a faculdade, pois essa é a condição mínima. Queria conhecer o mundo, mas tenho medo de pedir dinheiro emprestado. Queria largar tudo e me dedicar a algo que realmente goste.

Mas eu não posso fazer isso agora. Eu não posso deixar minha mãe decepcionada. Eu preciso terminar a faculdade. Eu preciso ser capaz de comprar minha própria casa, meu carro e não deixar ela preocupada. Eu preciso estar aqui, caso ela precise. Eu preciso trabalhar e conseguir ajudar minha irmã, para que ela não tenha que pedir mais pra minha mãe e ter que ouvir o que ela não gostaria.
Eu ainda procuro a aprovação da minha mãe. Eu só não sei mais qual. Nem por que.

09 fevereiro, 2009

Cabe apenas a mim.

Av. dos Bandeirantes, Imigrantes, Rio-Santos. Por volta das 21 horas de sexta feira, 06/02. Quase um maço de mallboro light, uma garrafa d’água, um pacote de fandangos, ipod e uma noite belíssima. Uma lua que parecia irreal, cinematográfica, fora dos padrões. Fazia da noite um quase amanhecer. E lá fomos nós, para nosso final de semana na praia.

O sol estava fritante. O céu azul, sem nenhuma nuvem por perto. O mar de um azul esverdeado imbatível. As pessoas sorrindo, bebendo, comendo. As crianças brincando. Alguns fritavam no sol. Outros, assim como eu, se escondiam embaixo do guarda-sol. Mas a praia não estava lotada. Alegrias de uma praia mais privativa.

Bia e eu pensamos na vida. No que fizemos até agora. Do que vamos fazer daqui pra frente. Daqueles que passaram pelas nossas vidas. Daqueles que a gente espera passar. Das brigas, das bebedeiras, das idiotices, dos silêncios. De todos os choros, de todo o apoio, de todas as mágoas. De tudo o que passamos juntas em 10 anos.

Fiz resoluções para meu ano. Eu sei que estou presa dentro da minha própria cabeça. Eu sei que eu não consigo sair disso. Que privo a mim mesma de escrever. Mas eu preciso mudar. Preciso parar de me afetar com os comentários da única pessoa que julgo ser importante. Preciso parar de ansiar pela aprovação de uma pessoa que nunca vai me dar. Pelo menos enquanto essa pessoa nunca me aceitar como eu sou.

As decisões foram feitas e a sorte foi lançada. Um final de semana onde limpei minha alma, para começar 2009 bem. Uma maneira de mostrar a mim mesma que basta que eu queira fazer as coisas. Basta que eu decida seguir em frente. Basta que eu ache meu eu.

03 fevereiro, 2009

Personality disorders

E eu me descobri limítrofe. Bem, não só limítrofe como também esquizotípico. A anti-socialidade, a obsessão compulsiva e a ansiedade já eram conhecidas. Mas todos sempre me chamaram de bipolar devido às intensas oscilações de humor. Mas isso se deve à minha personalidade limítrofe!

Comecemos pelo mais leve: o transtorno esquizotípico. Transtorno que se caracteriza por um comportamento excêntrico (bom...nada errado até aqui) e por anomalias do pensamento e do afeto que se assemelham àquelas da esquizofrenia (say what??!!). Os sintomas são afeto frio ou inapropriado (bom, até que tem certa razão), comportamento estranho ou excêntrico (ok, total correto), tendência ao retraimento social (tell me something new), ruminações obsessivas (me senti uma vaca, mas ok, está certo) e mais algumas coisas para terminar dizendo que é um transtorno “borderliner”, latente, pré-psicótica (oi?) e pseudopsicopática.

Resumindo eu sou excêntrica, com problemas de afeto, me isolo do mundo e fico ruminando coisas ruins que nem vaca rumina o pasto. Até ai, até que tudo bem. Devo concordar com tudo. Só não gostei do nome da doença. Esquizotípico parece um esquizofrênico típico. Bem aquela coisa de vizinho sabe? Trágico.

Anyway, ainda sou limítrofe. E vamos ao meu estado “borderliner”. Característica individual que reflete padrões de comportamento enraizados, inflexíveis e de má adaptação, caracterizados por atos impulsivos e imprevisíveis e instabilidade de humor e nas relações pessoais. Bom...eu sou instável mesmo, devo admitir. E também tenho muitos atos impulsivos. Meu humor então, coitado. Tenho explosões que assustam os desavisados. A pessoa com distúrbio da personalidade limítrofe é impulsiva em áreas que têm um potencial para autodestruição. Os relacionamentos com outras pessoas são intensos e instáveis. A pessoa faz esforços frenéticos para evitar o abandono real ou imaginário e apresenta instabilidade de humor e raiva sem motivos. Também pode haver incertezas quanto à auto-imagem, objetivos a longo prazo ou escolhas profissionais
Correto novamente!

Enfim, isso ai tudo sou eu. Tentei me autodestruir durante muitos anos, quando era mais nova. Talvez dos 15 até os 19 anos. Daí, fiz uma tatuagem no pulso que mais costumava machucar e prometi nunca mais fazê-lo. Tenho mantido minha promessa desde então. Mas foi a única promessa. Continuo tento relacionamentos intensos e medos absurdos de perder. Entro em estado de completo numbness quando termina, até resolver acordar de novo. Tenho muitas incertezas sobre mim mesma, apesar de que não ligo muito pro que as pessoas falam. Acho desnecessário dar ouvidos. Me sinto totalmente inepta socialmente, sempre achei que não nasci em comercial de margarina pra ficar sorrindo a toa.

Pelo menos agora eu tenho uma boa desculpa para todos os meus mood swings e para minha inabilidade social!