21 setembro, 2008

Blindness

Ontem fiz uma coisa que não fazia há muito tempo. Depois de uma tarde em casa, sem fazer nada, meio doente, fui ao cinema com a Sarah. E foi uma delícia.
Fiz minha unha, comi o dia todo até que ela me ligou e me resgatou da monotonia. Como eu preciso fazer isso mais vezes. Me envolvo tanto no meu egocentrismo que esqueço do mundo divertidíssimo que existe lá fora!
De qualquer maneria, fomos ver Ensaio sobre a Cegueira. Por onde começar? Pelo cinema lotado e uma sala pequena e mal projetada? Pelo brilhantismo de Saramago? Pela destreza de Fernando Meireles? Pelo fim de noite mais divertido dos últimos tempos?
Sarah e eu saímos do cinema e pensamos na cena mais difícil de todo o filme: quando as mulheres da Ala 1 vão para a Ala 3 trocar sexo por comida. E na volta, banham a " peixe-morto", como se estivessem limpando a si mesmas. E isso nos levou a pensar no individualismo. Nas buzinas impacientes quando o primeiro personagem fica cego. No Gael se proclamando Rei numa monarquia absurda e inexistente. Considerando-se rei de um "hospício" e consequentemente, da comida.
Acho o livro do Saramago atemporal. Não que uma cegueira branca cairá sobre nós. Bom, não que isso seja impossível. Mas talvez a cegueira branca já esteja entre nós. Nesse egocentrismo exacerbado, nessa pressa sem explicação do dia-a-dia, nesse caos em que estamos afundados e não encontramos maneira de sair.
A cegueira branca somos nós. Que nos impede de ver qualquer coisa além de nossos pensamentos obscuros e sujos. Nossos umbigos. Que nos impede de abraçar, agradecer, sorrir com pureza, amar com ingenuidade.
A cegueira branca tem nome. Os nossos.

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